segunda-feira, 19 de julho de 2010

Fé, eleição e farra.



Fé, eleição e farra.




Ele passeava contente pela rua, tinha amigos, tinha agruras, tinha seus traços,
rosto de moço emancipado, bíblia debaixo do braço, acima de qualquer suspeita,seguia ...
Seu nome era Agosto, batizado pelo pai que agosto de Deus lhe era como sentença. Sua igreja... Pouco lhe importava, tinha um objetivo, nunca duvide de um homem de objetivos, era claro e sincero.
Um protestante á moda, iria candidatar á vereador, prefeito, e quem sabe um dia seria presidente da república. Sempre se gabava com os íntimos: com minha astúcia, popularidade e religião sou o homem perfeito.
O salvador da pátria.
Sua malandragem marota de quem tinha cinco filhos e não tinha como se sustentar. Talvez, não corria atrás. Mas no fundo, ás vezes, nem tão fundo assim dizia: ___ Trabalhar? Eu sei não, talvez eu venha á ser prefeito, tenho á igreja ao meu lado, á malandragem também, sou esperto sou simpático, falo bem.
___ Ora, seu Zé, político esperto joga dos dois lados. Dizia Agosto.
___ Cuidado homem, não brinque com Deus, ele é soberano.
___ Pois, homem, até o Pastor está de acordo comigo. Retrucou.
___ Hoje em dia, se agente não for esperto, não se ganha á vida. Ainda por cima, deixa um ateu ou, qualquer sem Deus, querendo meu lugar, fazendo discurso de Ateu, Deus está comigo, tenho certeza. ­ ___ E digo mais, tenho projeto, é coletivo , não é pessoal.


___ homem, homem, essa cidade é pequena, mas nem todo mundo é burro.
tome cuidado homem.
E assim foi, seu Zé , cansado de avisar o amigo.


NA IGREJA

__Irmãos, levanta o Pastor. __Todos sabem que nós, não nos metemos em política. __Esse meio podre, infame, não nos interessa. __ Porém peço a compreensão de todos vocês. __ E correto deixar o poder de nossa cidade, nas mãos dos mesmos que aí estão?
__E correto, corrermos riscos? __Inclusive, o risco, de ver fechada nossa igreja, devido um decreto qualquer. _ ouvindo tais palavras os fieis se contorciam, e, em meias palavras comuns á uma igreja, se ouvia certa hostilidade da boca de certos fieis: __vamos acabar com o mundo! . __eles não sabem do nosso poder, afinal nós temos Deus. __ Eles não, imundos! Vão queimar no inferno (...)
Agosto á convite do pastor, sobe ao púbico, e de lá, manda um recado: __ Amados irmãos, compartilho de vossa dor, lanço minha candidatura á prefeito dessa cidade, com o apoio de toda á igreja. __ Deus está conosco nessa empreitada e não com os infiéis que roubam dinheiro do povo.


ELEIÇÕES:

A tensão logo aflora. Agosto é todo um furor de tensão, urna á urna, os votos são apurados. O candidato oposto é um fiel também, mas para surpresa de todos, inclusive de Agosto é um fiel da igreja ao lado. Seu Zé. Católico. Reza todos os dias. Vai á igreja também. É muito querido tanto quanto Agosto.
Nas previas, na campanha, seu Zé apoiava Agosto. Entrou nas eleições com o propósito de ser o “laranja”, aquele que iria disputar para não ganhar, dando margem aos planos de Agosto e aos votos também.
Mas faltando poucos dias mudou de idéia. Tudo por conta de um figurão amigo do bispo que botou lenha no fogo, esse apoiava agosto e Zé, mas era o dono do instituto de pesquisa da região, como estava tudo muito empatado resolveu investir nos dois. Zé
Foi ferrenho, menos maroto, sem aquele ar de malandragem. Na verdade um ar caipira. Conquistou o eleitorado.
Bateu de frente com Agosto, ganhou, com pouco mais de 50 votos de frente.
A cidade foi uma festa só, ninguém parava. Zé era o novo prefeito.

ACERTO DE CONTAS
Agosto, numa súbita ira, foi Ter com Zé. __ seu crápula , não entendes o que quer dizer “laranja”.
__ entendo Agosto, mas ... – em tom debochado disse: o pessoal tinha medo do que poderia ser sua administração, ao fim, me procuraram, acabei aceitando.
__ Mesmo assim; você me traiu, merece á morte. E tudo de ruim é muito pouco pra você.
__ Somos cristãos, Agosto, calma! .
__ Cristão o raio que o parta, entrei nessa foi pra ganhar.
__ Então  lembra-se do que me disse, outro dia, Agosto? - lembra-se? - Então, não lembra! Disse-me: "Hoje em dia, se a gente não for esperto, não se ganha á vida.”
__ Se quiseres levar por esse caminho,camarada, fui eu o mais esperto. Nada pessoal.

Autor:
Hugo Neto

quarta-feira, 14 de julho de 2010

ÉTICA KANTIANA.

Kant tornou-se célebre por haver constituído um sistema epistemológico e um ético. Ele estabeleceu que toda e qualquer filosofia, para ter êxito, deve buscar necessariamente a resposta para 4 perguntas fundamentais. Estas são as seguintes: 1) O que posso saber? (que se dirige ao conhecimento) 2) O que posso fazer? (que diz respeito à moral) 3) O que posso esperar? (que refere-se ao finalismo das coisas e infere a possibilidade da religião) 4) O que é o homem? (que abarca as anteriores, por ser a mais importante de todas as questões). Para cada uma destas perguntas, Kant escreveu uma obra como resposta argumentada a estas perguntas. Desse modo temos que a Crítica da Razão Pura foi escrita para responder a pergunta 1. A Crítica da Razão Prática se volta para a pergunta 2 e a Crítica da Faculdade Julgar analisa a pergunta 3. A pergunta 4 foi desenvolvida no livro Antropologia a partir de um ponto de vista pragmático. Em função do tema deste trabalho, a pergunta que nos interessa, nesta perspectiva, é a de número 2. A caracterização sobre o modo correto para uma ação se configura como um desafio, pois, toda ação é sempre acompanhada da liberdade que a condiciona. A preferência pelo termo ‘liberdade’ e não ‘livre-arbítrio’ tem a ver com a tematização filosófica puramente imanente das ações livres, e não com questões teológicas que associam o fazer humano à ideia do destino. O sentido de toda ação livre é individual, embora se cada pessoa fizer apenas o que lhe interessa e atropelar o direito alheio, logo, a convivência ficará insuportável e insustentável. Kant introduz a idéia de uma perspectiva crítica porque queria saber quais argumentos poderiam ser validados naquele ‘novo’ momento histórico da modernidade (ou seja, na época da razão iluminista – séc. XVII e XVIII – onde se acreditava no poder da razão como guia para solução dos problemas humanos). O problema da filosofia crítica de Kant se constitui de vários problemas articulados, embora comporte uma unidade interna consistente. A filosofia de Kant possui uma dimensão teórica e uma prática, ou seja, uma dimensão epistemológica (indagação sobre os limites do saber humano) e uma ética (uma teoria para a ação humana). Ao analisarmos a ética de Kant, constatamos que trata-se de uma teoria sobre a ação humana que pretende estabelecer o que é certo de modo universal e a priori. Chamamos a teoria da ação de Kant de metaética, pois, se a ética, tradicionalmente, já possui um sentido mais teórico do que prático, a metaética kantiana busca fundamentar as razões éticas em um sentido apriorista. Nesta linha de abordagem, a ideia da metaética não trata ‘do que é’ e ‘do por que é’, mas sobretudo se refere ao que Deve Ser. Portanto, esta metaética aprofunda mais ainda a noção de ética. A ideia da ética se caracteriza como instância teórica que estabelece uma legislação para a conduta humana. No entanto, isto não é o bastante para Kant, pois, além de reconhecer a existência da regra universal e a priori, para ser ético o indivíduo deve querer, por vontade própria, agir em conformidade com este universal ético. Kant chama esta atitude do sujeito ético de ação autônoma, pois, ainda que seja uma ação determinada por uma regra, trata-se, na verdade, do exercício de liberdade autônoma (escolha racional e consciente). A autonomia trata de uma escolha do sujeito em reconhecer a razão que sustenta o ato correto. Ao contrário dos medievais, em relação ao campo da filosofia prática, Kant fez com que a ideia do Dever não fosse fundada em Deus, mas na própria Razão. Desse modo, ele estabeleceu a possibilidade do conhecimento a priori teórico no sujeito da ação. Kant enunciou uma máxima que expressa o sentido de sua filosofia: “Duas coisas me deixam maravilhado”, confessou Kant certa vez: “o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim”. Tanto o céu estrelado quanto a lei moral são regidos por princípios a priori. “O céu estrelado” é o universo físico cuja ordenação é definida por leis a priori, tal como a ciência moderna o entende; ‘a lei moral dentro de mim’, significa que a regra universal sobre o que é certo é também a priori em relação às situações particulares da vida individual. Assim, a lei para a moral não estaria “fora”, mas “dentro de mim”, pois, não é externa ou imposta pelas convenções sociais, mas é uma noção que pode ser entendida como reconhecimento racional do que é certo; Esta lei moral, base da ética kantiana, é o fundamento do caráter. A lei moral não é uma Lei Natural com certos e errados objetivos, mas uma lei em função da humanidade à qual escolhemos vincular-nos. (Mas será que estamos realmente vinculados quando só nos vinculamos ou nos comprometemos apenas conosco?). A Moral seria, portanto, apenas uma questão de intenção subjetiva, não teria qualquer conteúdo com exceção da Regra de Ouro à qual deve estar submetida (o chamado “imperativo categórico” de Kant). A Regra de Ouro da ética pode ser formulada do seguinte modo: “Não faças aos outros o que não quiseres que aconteça a ti”. Ao propor um modelo ético, Kant pretendeu submeter a vontade humana à regra de conduta universal. Mas isto não significa que esta submissão da vontade é imposta de modo arbitrário. O próprio sujeito que age corretamente, segundo Kant, identifica a necessidade de agir conforme as regras como modo de orientação. A pergunta ‘o que (e por que) devo fazer?’ assume, na perspectiva kantiana, um modo espontâneo de respeito às regras. As regras delimitam o campo da ação. A ideia da regra ética é garantir o respeito como característica fundamental para as relações humanas. Assim sendo, ao sentir-se propenso a um tipo de ação, o indivíduo deve escolher de acordo com um autêntico reconhecimento da razão certa em relação a uma situação e qual o comportamento adequado para sua própria conduta. O indivíduo não deve agir por medo de se prejudicar ou por querer levar vantagem sobre o próximo. Kant consideraria como alguém imoral quem age em função dos próprios fins, pois, trata-se de um modo de agressão contra o semelhante, e que só serviria para despertar o que há de pior nas relações humanas, que é exatamente a tendência para auto-destruição, combinada à ideia cética de descrença no próximo. A ideia é que não é possível haver desenvolvimento de nenhum aspecto positivo no gênero humano, quando as relações sociais estão contaminadas pela falta de crença no semelhante. Para sermos éticos, portanto, devemos ser, antes de tudo, racionais, pois, o que tem a ver com a ética se relaciona com o entendimento do sentido de uma regra universal como a Regra de Ouro. Não apenas o entendimento teórico, mas a prática desta conduta enunciada na Regra de Ouro. Segundo Kant, para ser ético torna-se imprescindível ser racional em conformidade com uma escolha racional, e ação racional. Isto significa que ser ético envolve ter de assumir conseqüências de um ato. A falta de ética seria usar o fingimento como estratégia para não se comprometer com as conseqüências daquilo que se faz. Isto é totalmente errado e inaceitável na ética kantiana. O motivo principal para o argumento em prol do Dever é a ação responsável (aquela que se compromete com as conseqüências) não apenas em relação a si mesmo, mas sobretudo, a que se responsabiliza com os outros. Lei fundamental da razão pura prática I Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal. II A autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais e dos deveres a elas conformes; pelo contrário toda heteronomia do livre arbítrio não só não funda nenhuma obrigação, mas opõe ao princípio da mesma e à moralidade da vontade. Com efeito na independência a respeito de toda a matéria de lei (…) e, ao mesmo tempo, na determinação do livre arbítrio pela simples forma legisladora universal, de que uma máxima deve ser capaz, é que consiste o princípio único da moralidade. Mas essa independência é a liberdade em sentido negativo, e esta legislação própria da razão pura e, como tal, prática é a liberdade em sentido positivo. Por conseguinte, a lei nada mais exprime do que a autonomia da razão pura prática, isto é da liberdade e esta é mesmo a condição formal de todas as máximas, sob a qual unicamente ainda podem harmonizar-se com a lei prática suprema. Bibliografia KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática, 1994 (págs. 42). *André Vinícius Dias Senra é professor de Filosofia da rede estadual de ensino, da The British School – RJ, e da Pós-Graduação em Filosofia Medieval da Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro e doutorando em Epistemologia pela UFRJ.

KANT E SEU CRIADO.

Certo dia me perguntaram sobre ética, na verdade sobre o que pensava sobre o assunto, como não sei muito e nem tenho muito a dizer, preferi outorgar autoridade de minha fala ao criado de Kant, em termos modernos um secretário, inculto para compreender seu patrão, mas safo o bastante pra aprender com ele. Certo dia almoçando com Kant travaram uma conversa, Kant lhe dizia – Parto do princípio de que todo homem é racionalmente capaz de fazer o bem, dotado de uma boa vontade, contudo as decisões humanas são sempre desiguais por erros. O criado percebeu a oportunidade, como só ele - se me permite Doutor seu ávido interesse por filosofia deixou-me interessado e me lembrei de Descartes logo no início de seu Discurso sobre o método,quando este observava que os homens embora iguais por bom senso sempre se desentendessem. Há alguma razão nisso, ou estou errado Doutor? Certa razão diria, contudo, me interessou muito a leitura de Rousseau; dediquei grande parte de minha vida lendo esse grande pensador, os homens são bons, as opiniões contrárias geram ações contrárias á condição humana, esse é o problema filosófico. Todavia quero que você fale por hoje, preciso pensar, diga o que acha de tudo isso? -Como sou ignorante Doutor, posso lhe dizer que divergências de pensamentos geram ações contrárias e ações contrárias só podem ser fruto de uma má compreensão do homem dotado de razão e boa vontade, ou uma transgressão á solidez da razão. – Então estás dizendo que há uma legislação universal segundo a qual todo ser humano dotado de razão deve seguir? pois a razão humana é a própria legislação e o dever concomitante com essa razão é a liberdade. – Doutor como seu humilde criado não entendendo. – Não é de meu temperamento explicar as coisas assim, mas vou tentar ser claro: Em minhas leituras e estudos matinais estava pensando numa espécie de razão que fosse prática, ou seja, uma razão do viver, da ação humana e cheguei a conclusão que existe apenas um tipo de liberdade ou autonomia, o dever, calcado na seguinte premissa: “Não faças aos outros o que não quiseres que aconteça a ti”. A grosso modo, seria isso, mas reservo a meus modos uma bela frase de um dia inspirado, deixe-me repeti-la “Duas coisas me deixam maravilhado, confesso, o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim”. Todo homem tem uma lei moral dentro de si, a razão e a plena liberdade humana funcionam em prol dessa máxima, tal máxima expressa o ato de liberdade. – O Criado muito curioso, chega à conclusão que não poderia debater com um gênio embora aprendesse muito, compreendendo assim, arriscou um palpite – podemos dizer alhures - (“Age unicamente de acordo com a máxima que te permita querer a sua transformação em lei universal") é realmente um princípio ético fundamental e universal. Kant extremamente sério levantou-se educadamente com sua bengala e costumeiramente sem sorrir pensou – meu criado andou lendo minhas obras, embora seja muito pouco para tirar conclusões tão sérias e um tanto precipitadas. By: Hugo Neto Silva. Filósofo.